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domingo, 15 de julho de 2007

Levando essa vida


CRÔNICAS DO COTIDIANO DO TANGO

LEVANDO ESSA VIDA

Mudam-se os costumes, as modas, as paixões, mas a personalidade das pessoas, isso não muda, não. Bem dizia o poeta: “Boemia, aqui me tens de regresso”.

Foi naquele bar em frente à praia, onde no passado tanto chope gelado havia rolado nos dias quentes de verão. Ele nem mais se lembrava o nome dos garçons, mas continuavam os mesmos. De repente uma mão nas suas costas:

- Olá, como vai?

- Puxa quanto tempo! Eu vou indo e você, tudo bem?

- Tudo bem, eu vou indo, levando essa vida como sempre!

- Como sempre? Você quer dizer com muito samba, certo?

- Não mais! A vida toma novos rumos e nos desvia de nossos caprichos.

- Como assim, caprichos! Você dançava todas as noites; freqüentava todas as casas de samba!

- Tempos idos. Mas foi muito bom enquanto durou, não é? Afinal você também era assíduo!

- Pois é, mas também parei com o samba.

- Pena!

- Pois é, fazer o que?

- Lembra quando a gafieira tomou força? Era show em cima de show, nas pistas, nos corredores dos restaurantes, até nas calçadas! Bastava tocar um sambinha. . . sempre tinha alguém que. . . Lembra?

- Claro, e você não deixava por menos; mais parecia um malabarista lançando mulheres ao ar!

- Não exagere, também não era assim; somente uma predileção por passos aéreos, mas ficou no passado.

- Nunca mais dançou samba?

- Vez ou outra, quando toca em alguma milonga.

- Como assim? Você agora dança tango?

- Bem, vamos dizer que tenho desenvolvido certo gosto pelo tango.

- Mas não acredito! Como nunca nos encontramos? Também tenho dançado!

- É mesmo? Onde tem praticado?

- Mais na academia, estou com pouco tempo disponível! E você, já foi a Buenos Aires?

- Bem . . . cinco vezes. É que agora passo sempre minas férias lá, fazendo aulas e dançando.

- Olha só! Mas parou de jogar mulher pro alto? Ah, ah!

- Pare com isso. Mas continuo evidentemente com certa predileção por passos bem elaborados.

- Nossa, mas foi muito bom revê-lo!

- Eu é que o diga! Vamos combinar um encontro em alguma milonga?

- Feito!

- Leva a Beth! Continua casado com ela, certo?

- Não! Sabe, tem pessoas que passam a vida inteira só fazendo as mesmas coisas, não dá para agüentar. O negócio dela era mesmo o samba; nós nos separamos.

- Pena!

- Não tem nada não! Vamos levando essa vida.

- Até mais ver amigo!

- Até!

Henrique Dinis


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